quinta-feira, 28 de maio de 2009
O verbo que habita em nós
Antes de Moisés receber as Tábuas Sagradas - onde a Lei foi escrita - houve Abraão, patriarca de Isaac e Ismael. De sua descendência originaram três grandes povos: os judeus, os cristãos e os muçulmanos. Muito antes de Abraão, estiveram Noé e Adão. E como deveria ser, já havia o Verbo - codificado numa cultura oral, revelado pela ancestralidade - que expandiu-se para os cinco cantos da terra. Esta expansão fez com que a Palavra do Criador ganhasse novas cores, matizes, registros e práticas.
Tudo que é bom e justo emana de um único Deus, que hoje pode ter muitos nomes e cultos. Mas, seus princípios foram antes cultuados, praticados e perpetuados por um único povo: primordial e resistente, criado a Sua imagem e semelhança.
São esses fatos que nos fazem ter tanta dificuldade em entender a intolerância, o preconceito e a violência praticados em nome de Deus (?), contra os religiosos do candomblé e da umbanda ou de qualquer outra religião. A religiosidade africana é a prática de uma doutrina baseada em valores de paz, justiça, amor fraterno e sacralização da vida.
Babalawo Ivanir dos Santos
"No início era o verbo". No alvorecer dos tempos havia apenas um continente, um povo, uma única raça. Esta é a história de minha tradição religiosa. Foi com a força da palavra que Olorum (Deus) criou a luz, a natureza, o mundo e tudo que habita nele. O verbo - traduzido em oralidade - é o que sustenta e o que mantém as várias tradições religiosas oriundas da África.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Obama, Bric, a diversidade étnica e o Brasil
Desde que os negros se levantaram para lutar por direitos civis nos EUA, na década de 1940, a grande conquista dos afroamericanos foi a implantação das ações afirmativas, entre elas as cotas raciais nas universidades e escolas.
A sociedade americana entendeu, há mais de meio século, que não era possível garantir espaços e igualdade para uma população historicamente tratada de forma desigual. A implementação desta política afirmativa para negros nos EUA levou algum tempo, mas floresceu. Barack Hussein Obama e Michelle Obama são o resultado concreto da luta por direitos civis liderada por Martin Luther King, Malcom X e Rosa Parker, numa sociedade em que os negros são menos de 14% da população.
No Brasil, por sua vez, o número de descendentes de negros e indígenas é cerca de 48% da população, segundo o IBGE.
Como um dos países que pode mudar a realidade mundial até 2050, o Brasil precisa avançar em direção à diversidade e à pluralidade. Os países emergentes que formam o Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – apostam nas cotas para populações excluídas.
O governo indiano enviou ao Parlamento projeto de lei que dobra as vagas para minorias por cotas nas universidades federais, reservando quase metade a classes "tradicionalmente desfavorecidas".
A Rússia garante na Academia Médica Seshenov, em Moscou, vagas apenas para alunos brasileiros.
A China, mesmo com 99% de suas universidades sendo pagas, aprovou neste ano a gratuidade para filhos dos camponeses.
Das tentativas de reparação aos descendentes de escravos propostas na 1ª Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, promovida em 2001 pela ONU na África do Sul, promulgou-se o Tratado de Durban, de que o Brasil foi relator e que assegurou a implementação de ações afirmativas para negros e outros grupos socialmente frágeis.
Delas, as cotas nas universidades brasileiras são as de maior resultado prático. Em todas as pesquisas feitas, os alunos cotistas aparecem com melhor média de rendimento.
O governo brasileiro pactuou o Tratado de Durban para assegurar ações que garantam diversidade e igualdade de condições entre os historicamente desiguais, rumo à modernidade.
Cotas para mulheres, portadores de deficiência, negros, indígenas e camadas populares são uma forma de equilibrar pluralidade cultural e étnica, e passos importantes para consolidar a democracia brasileira.
Ivanir dos Santos